A fila de transplante na rede pública de saúde, em Pernambuco, registra 2.834 pacientes à espera de um órgão ou tecido, segundo dados atualizados até o último mês de abril. Os números crescem a cada ano e são impactados, em especial, pela negativa dos familiares do ente querido que se tornou um doador em potencial. Com o objetivo de  conscientizar sobre a importância e sensibilizar a população, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) promove, desta segunda (22/05) até a próxima sexta-feira (26/05), a Semana de Incentivo de Doação de Órgãos e Tecidos. Um único concessor pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de outras sete pessoas, que aguardam por um transplante, com duas córneas, dois rins, um fígado, um pâncreas e um coração.

O impacto do “não” dos responsáveis repercute diretamente nas doações, o que ocasiona uma reação em cadeia: o número de transplantes diminui e, consequentemente, há um aumento da fila de espera por um órgão ou tecido. As estatísticas só cresceram entre 2018 e os primeiros quatro meses de 2023. 

Para dimensionar, este ano, a taxa de negativa familiar, segundo informações da Central Estadual de Transplantes do Estado, ultrapassou os 49%. Enquanto isso, os valores nacionais de referência ficaram na média de 47%. No período pré-pandemia, vale o exemplo, Petrolina destacava-se no cenário nacional com uma taxa de negativa familiar tão baixa que levou Pernambuco a se tornar o segundo maior transplantador cardíaco no País. 

“A legislação brasileira para o consentimento da doação legaliza, como definição plena, a decisão da família. Assim, é necessário que as pessoas, em vida, conversem com seus familiares e reforcem o fato de serem doadores de órgãos. Isso, quando acontece, é muito positivo. Facilita essa decisão”, explica Melissa Moura, coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco.

Como Pernambuco apresenta um quadro que destoa de boa parte do Brasil, a Semana de Incentivo de Doação de Órgãos e Tecidos tem como desafio amenizar, ao menos, o receio que muitos familiares carrega de concordar com o manejo do corpo do ente querido para extração dos órgãos para doação. O comum, nos dias atuais, é a reivindicação do “corpo íntegro”.

“É importante saber que esse corpo vai ser entregue de forma íntegra. É como se ele tivesse passado por uma cirurgia, apenas com uma sutura. O corpo é mostrado à família, faz-se o reconhecimento. Estamos com lista de córnea com mais de mil pacientes aguardando por um transplante. Nos olhos do doador, por exemplo, é colocada uma prótese, e é feita uma sutura, com fio muito fino. Imperceptivel”, explica Melissa Moura.

O Brasil conta com o maior sistema público de transplantes do mundo. Mais de 95% das operações são custeadas pelo SUS. Trata-se de um Programa consolidado, que dá certo. E a maior carência é  relacionada aos doadores.

“Há os profissionais de saúde, importantes, que acolhem essas famílias que perdem seus entes queridos, nos hospitais. São famílias que precisam ter acolhimento, que é feito a partir da comunicação de notícias difíceis. Existe um preparo técnico para que as famílias entendam o processo. A doação de órgãos e tecidos é um ato de altruísmo, que vem da sociedade e volta para a própria sociedade. Sem o ‘sim’ para doação, não há transplante”, finaliza.

 

Notificações e doações de órgãos sólidos de Pernambuco - Janeiro / Abril

Principal motivo de não doação de órgãos

Negativa Familiar - 49%

Órgãos mais necessitados

1 - Rim - 1.526

2 - Córnea - 1.063

3 - Fígado - 161

4 - Medula óssea - 22

Fila de espera - Abril/2023

2.834

Fila de Espera / Anos anteriores

2018 - 1.128

2019 - 1.494

2020 - 1.771

2021 - 2.629

2022 - 2.753