Na noite da última terça-feira (12/11), foi apreendida, em Vitória de Santo Antão, mais de 1,5 toneladas de substâncias utilizadas na preparação de chumbinho (considerado, popularmente, como raticida), além de arsênico, para confecção de cupinicida. Durante a ação, um homem de cerca de 70 anos foi preso e autuado por armazenar produto ilegal. O crime é inafiançável e a pena pode chegar a 15 anos. A apreensão foi feita no bairro do Livramento pela Vigilância Sanitária do município, em parceria com a Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) e a Polícia Civil, após denúncia de populares.
De acordo com o gerente geral da Apevisa, Jaime Brito, essa é a maior apreensão de chumbinho já feita no Estado. “Já levamos todo o material para a Secretaria de Saúde de Vitória de Santo Antão e, na manhã de hoje, vamos continuar a contagem e fiscalização dos produtos apreendidos”, avisa.
Brito ainda lembra que o chumbinho, na verdade um agrotóxico, não tem efeito raticida, já que ele não tem poder sobre a colônia de ratos. “Normalmente, apenas o rato mais velho irá consumir o chumbinho. Com a morte dele, os demais se afastam do veneno. Assim, ele acaba sendo mais perigoso para a população em geral, já que ele pode contaminar apenas pelo cheiro ou contato com a pele. Em caso de ingestão, dependendo da quantidade, pode levar à morte”, reitera.
“O chumbinho causa problemas no sistema nervoso, respiratório, cardiovascular, digestivo. Depois da ingestão, a pessoa, normalmente, tem a diminuição dos batimentos cardíacos, dor abdominal, a pupila diminui, tem problema para respirar, fica suando muito e salivação excessiva”, explica a coordenadora do Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco (Ceatox), Lucineide Porto.
Segundo Lucineide, a pessoa intoxicada precisa ser levada imediatamente ao serviço de urgência mais próximo. Alguns cuidados também são necessários, ainda em casa, como retirar a prótese dentária, caso haja; não ingerir nenhum líquido; não provocar vômito, sobretudo em criança; e ficar atento para casos de convulsão. Também é importante levar uma amostra do produto para análise imediata. “A unidade de saúde entrará em contato com o Ceatox (0800.722.6001) para que seja analisado o melhor tratamento”, avisa, lembrando que, por ser uma substância ilegal, normalmente, vários insumos são utilizados na fabricação, o que dificulta saber ao certo quais os verdadeiros agentes que estarão agindo no organismo.
Só em 2013 (até outubro), já foram contabilizados 208 casos de intoxicação por chumbinho, com 25 óbitos. Em 2012, foram 248 casos e 27 mortes. Desde 2005, foram 3.459 pessoas intoxicadas e 274 óbitos.
SUBSTÂNCIA – De acordo com a Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), o chumbinho é um agrotóxico utilizado em determinadas culturas agrícolas e vendido apenas com a receita de um agrônomo. O insumo acaba sendo fracionado por comerciantes ilegais, que acrescentam outros componentes, e vendido em feiras livres, principalmente como raticidade. O órgão avisa que o uso doméstico do chumbinho é terminantemente proibido em todo o Brasil e que ele não tem ação efetiva contra colônia de ratos.