Daqui a 60 dias quem vender irregularmente chumbinho nas ruas de Pernambuco poderá ser detido, autuado no artigo 273 do código penal (que trata do crime contra a saúde pública) e poderá pegar de 10 a 15 anos de prisão. Essa ação está dentro do pacote de medidas anunciado hoje (06/05), durante o seminário “O comércio e o uso do chumbinho e os danos para a saúde pública”, promovido pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), através da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa).
O próprio seminário já foi o pontapé inicial das ações estabelecidas em conjunto com a Secretaria de Defesa Social (SDS), para conscientizar a população dos malefícios do Carbamato, nome científico do chumbinho – agrotóxico de uso restrito que é vendido irregularmente no Grande Recife. De acordo com o gerente-geral da Apevisa, Jaime Brito, antes das ações coercitivas para impedir a venda ilegal do produto, serão executadas ações educativas, com distribuição de panfletos e realização de palestras. “Também iremos fortalecer o lado do diagnóstico e capacitar os profissionais de saúde da família para trabalhar conosco nessa luta contra o chumbinho”, acrescentou.
O delegado da unidade do Consumidor, Roberto Wanderley, já avisou que irá mapear as localidades do Grande Recife onde o produto é vendido irregularmente. “Já sabemos que o chumbinho é vendido nos bairros do centro do Recife e na periferia da cidade, como Casa Amarela e Vasco da Gama”, afirmou. Com o início das ações repressivas, segundo o delegado Roberto Wanderley, os consumidores também poderão denunciar os locais irregulares de venda do chumbinho, através do telefone 3222-7018.
Em 2007, foram registradas pelo Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco (Ceatrox/PE) do Hospital da Restauração 41 mortes de pacientes que deram entrada no Hospital da Restauração (HR) depois de intoxicados por chumbinho. Nesse ano, esse número já chega a 24 mortes. “A assistência não pode ficar apenas com a questão final do chumbinho”, salientou diretor do Hospital da Restauração, Américo Ernesto Júnior. “Queremos mesmo diminuir essas situações graves que chegam ao HR, para que possamos investir também em pesquisa, para melhorar o atendimento aos casos graves que chegarem ao Hospital”, explicou.
No início de janeiro, o pescador Arnaldo Alcântara, 52 anos, ingeriu um biscoito envenenado com chumbinho. “Na hora que comi, não senti nada”, contou Arnaldo Alcântara. Como consumira pouco do pacote de biscoito, o pescador e mais três amigos, apesar de sentirem-se enjoados e indispostos, conseguiram sobreviver. No entanto, o neto do pescador, de apenas 10 anos, que comera uma grande quantidade do biscoito com chumbinho, faleceu em decorrência do envenenamento. “Tem que acabar com a venda desse produto, porque, assim como meu neto, outros também podem morrer por causa do chumbinho”, ressaltou o pescador.